deixa.
Larga, passa, diz que não

tudo o que vier, vai
e só vai porque veio.

Pois que não venha, então!

não ter, não ver, não querer
é sempre melhor

que, chegado o dia,
ter de deixar ir.

Vieira McNeal

e a vida?

quero-a assim
em sépia,
com calma,
esperando.

espero eu,
e ela,
por ele, o fim.

não o espero com gosto.
espero-o porque sei que vem
e porque é por isso
que se esperam as coisas.

sabes?
o como esperas perde-se na espera
quando vista de cima.

Vieira McNeal

Tudo te morre
por entre os dedos.

Larga tudo antes de morto!

Não acabes sem nada
e com as mãos sujas.


Vieira McNeal

Fugir de quê?
Lutar por quem?
Nada. Niguém.

Escapar? Vencer?
Porquê?
Para quê?

Esperar feliz pela morte?
Viver até morrer?
Não.
Estou morto,
Levem-me quando quiserem.


Vieira McNeal

Talvez as estrelas sejam divinas
Talvez lá esteja o Paraíso.
Mas quantos cairam tentando lá chegar?

Não queiras tocar-lhes:
Olha-as daqui.

Porque sempre que saltas
A Terra cai mais um pouco
E as Estrelas ficam mais longe


Vieira McNeal

Para quê?

tentando
mergulhas no
mar do Nunca Serei,
ou conquistas não mais
que memórias inertes
como tu serás.

Para quê?

com uma mao cheia desse nada
sentes-te bem.
mas até o nada será pó.

Corre com calma;
Vive sem tempo;
Salta mais baixo.

Vieira McNeal

Que largues o que não tens

Que morra antes de o ser
Qualquer querer de coisa alguma

Do ser faz parte que não o seu?

Solta-te do mundo,
E serás deus.

Vieira McNeal

eu quis,
e o Mar
abriu

Sugando-me.

O teu mundo chove no meu

Estou afogado
Na perfeição do passado.

Cobres de gélidas gotas
Cada conquista,
Cada alegria.

Olho para cima.
Ris-te de mim.

Por muito que suba
Não te chego.

Tenho frio.
O passado já não faz mais
Que gelar o novo Eu.

Oh velhas memórias...
Antigo eu distante.


Diogo Almeida

Não sintas
E pensa nisso.
Assiste à passagem de uma vida
Que não queres viver.

E quando fores o fundo
No fim do mundo
O que não viste não dói.
Como uma nuvem que passa
E nada muda.


Vieira McNeal

Mundo normal

Mundo normal
Que me aflige.
Mundo que me angustia
com a calma de sempre.

Sou redondo-
Ciclico -
Num mundo redondo.
Normal.

Coisas que olho
Sempre
Com os olhos de sempre
Que me parecem bem-
Normais.

Vivo uma vida normal
De gente normal
E sei-o.
Só isso me torna diferente.


Diog0 Almeida

Olho para a flor.
Não posso, desvio o olhar.

Sinto-me como um gato,
Que olha para um rato
Que o dono não deixa comer.

Valerá a pena receber o Mundo?
Valerá a pena viver a fundo
Um Mundo que vai acabar?

Comigo morre aquela tarde,
Aquela flor,
Aquele mundo...
Não.

Com contenção,
A morte é só o fim do que não foi assim tão bom.


Vieira McNeal